segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
CD da Semana: Herbert Vianna - O Som Do Sim [2000]
A analogia das subidas à superfície para um gole de ar antes de um novo mergulho se presta bem aos discos solos de Herbert Vianna, que pareciam ter sempre como alvo tão somente os fãs mais aplicados dos Paralamas, talvez interessados em conhecer os outros ângulos de seu trabalho musical. Agora, depois do caseiro e experimental Ê Batumaré (1992) e do refinado e acústico Santorini Blues (1997), o cantor e guitarrista foi em busca de algo mais. Desde a primeira música, O Som do Sim transpira a ambição de não ser só mais-um-solo-do-Herbert. Ele é a verdadeira pulada de muro do paralama, primeira investida na, digamos, autoralidade responsável. Ao longo de suas quase duas décadas de banda, Herbert foi se aprimorando como compositor, prolífico a ponto de poder entregar o ouro para os Paralamas e ainda distribuir algumas pepitas para outros intérpretes. Apesar de todas as oscilações de estilo do trio, ainda havia uma área pouco explorada nos discos – a de um pop-rock mais grave e circuspecto, com inclinações para a bossa. Em O Som do Sim, o paralama vai fundo nesse departamento, com o cuidado de manter unidade suficiente que justificasse um álbum, não só uma coletânea de composições não aproveitadas. Com um repertório de primeira – melodias cativantes, letras precisas e espirituosas –, ele optou por entregar as canções às vozes, instrumentistas, arranjadores e produtores de direito. A dosagem dos elementos é talvez uma das grandes vitórias de Herbert nesse disco.
Raras vezes o pop brasileiro foi tão feliz quanto na faixa Partir, Andar, com sua suave quebra bossa, arranjo idem de Deodato e vocal sóbrio de Zélia Duncan. Ou então em Mr. Scarecrow, rock maduro, com letra em inglês (tem sempre uma nos solos de Herbert), vocais adequadíssimos de Cássia Eller e uma cozinha vigorosa, formada por Bacalhau (baterista do Rumbora) e Marinho (baixista do Pavilhão 9). Estes dois, mais o DJ Nuts, ajudam a compor o clima de pesadas nuvens negras sobre as duas faixas que abrem o disco, O Muro ("Será que quem puxa o gatilho/ Vê que são pais irmãos e filhos?") e História de uma Bala, com narração rap a cargo, respectivamente, de Black Alien (Planet Hemp) e Fernanda Abreu. Junto com a singela A Mais, representam o pedido de Herbert por uma trégua na violência urbana. Já as relações amorosas ocupam um outro tanto do disco, que resplandece nos detalhes – é no generoso arranjo de Vamos Viver (gravada em dueto com Sandra de Sá), no toque do órgão Hammond e a aspereza da voz de Luciana Pestano em Eu Não Sei Nada, na convincente tentativa de bossa tradicional em Hoje Canções (com o piano de Marcos Valle e a voz de Nana Caymmi, surpreendentemente singrando por registros mais altos), na eletrônica e no inusitado naipe de metais em Une Chanson Triste... Há espaço até para uma doce recriação de Inbetween Days, do The Cure, com o vocal um tantinho over de Erika Martins. Infelizmente, por não ter sido muito divulgado O Som do Sim não tocou muito nos rádios apesar de ter um bom material! É como uma pérola escondida da música brasileira.
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Um comentário:
Uma boa dica. Herbert é sempre Herbert! Irei baixar.
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